Retratação pública da Veja para com a Comunidade Cigana do Brasil.

A revista Veja, em sua edição 2345, de 30 de outubro de 2013, veiculou uma reportagem de cunho altamente racista e xenofóbico em relação aos ciganos - a minoria étnica mais perseguida e rejeitada da Europa. A matéria, que tem apenas duas páginas, trás já em seu título uma máxima dirigida aos defensores dos ciganos, e não deixa dúvidas de sua intenção: "você iria querê-los como seus vizinhos?". Ao longo do texto, o jornalista apresenta dados estatísticos que apontam para o alto índice de criminalidade entre os ciganos, sugerindo, em vários momentos, que a condição de criminoso é algo inerente à própria etnia, o que fomenta o preconceito e a discriminação em razão de origem étnica, algo expressamente condenado pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo terceiro, inciso IV:

"Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: [...] IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação."

Para além do evidente mal gosto da reportagem, a comunidade cigana do Brasil sente-se consternada, ofendida e prejudicada em uma luta secular contra estigmas culturais profundamente enraizados. Temos consciência de que a criminalidade é um grave problema social. Mas aqui, como lá, a maior parte de nós luta para viver a vida honestamente, sendo essa luta vertiginosamente mais difícil na Europa, onde o preconceito agravado, que reportagens como essa ajudam a reforçar, pode tornar a interação social um sonho de difícil, quando não impossível, realização.

A crueldade, a leviandade e a irresponsabilidade da matéria publicada pela Veja fere toda uma comunidade em seus mais básicos princípios de dignidade humana.